terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dinheiro

Autor: Martin Amis
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 450
Editor: Quetzal
ISBN: 9789897220623

Sinopse:
John Self é um realizador de filmes publicitários de estrondoso sucesso e que leva um estilo de vida hedonista e excessivo, totalmente desregrado: consome, com voracidade, pornografia, prostitutas, álcool e comida de plástico.
A história que se conta em Money - que o Guardian considerou o grande romance inglês da década de oitenta - decorre entre Nova Iorque e Londres, nos tempos dos motins de Brixton e do casamento real. E é a história de John Self - o seu narrador e protagonista - um homem que personifica a ganância desses anos de ouro do capitalismo, em que o desprezo pelos valores sociais e humanos só conseguia ser suplantado pelo amor ao dinheiro - e a cegueira pelo dinheiro, por sua vez, pelo terror da falta dele.
Mas será John Self um homem completamente mau? Afinal tem sentido de humor, traços de generosidade, e consegue que ora gostemos ora não gostemos dele.
Trinta anos volvidos, e jazendo por terra os mitos financeiros e sociais que candidamente enformaram os anos 1980, esta comédia negra é, agora, mais atual do que nunca.


Opinião:
Este livro tem uma daquelas sinopses que promete vir aí algo de bom. Foi essencialmente ela, e não a capa, que me deu uma vontade enorme de ler este livro, algo que fiz de imediato mal lhe consegui pôr as mãos em cima.

John Self  ama apenas uma única coisa em todo o mundo... Dinheiro! Adora ter dinheiro, fazer dinheiro, cheirar dinheiro, sonhar com dinheiro... tudo o que esteja relacionado com dinheiro entra nos sonhos de John Self. Sendo um realizador de filmes publicitários minimamente conhecido, acaba por ter imensas dessas notas verdinhas na sua conta bancária. Mas mais estão prometidas ao ser-lhe oferecido o cargo como realizador de um filme. Um filme que prometia uma boa história e que continha todos os ingredientes que, de acordo com as personagens do livro, os nova iorquinos e os londrinos gostavam... dinheiro, mulheres e sexo, muito sexo!

Mas a vida não está propriamente cor de rosa para o nosso protagonista (e devo deste já dizer, eloquente narrador), pois embora lhe tenha sido oferecido um emprego de sonho, este sonho está prestes a virar pesadelo quando o seu parceiro de negócios tem umas exigências deveras estranhas e todos os actores que parecem perfeitos para o cargo têm uma maneira de ser, de pensar e de fazer diferente de tudo o que John esperava (e de tudo o que John lhes pede!!). Para desesperar ainda mais, a mulher que está a escrever o guião do filme nunca mais se despacha e quando o faz é o pior guião que John vê na vida! Ainda para mais Selena, a suposta namorada de John, apenas está com ele por dinheiro e têm ambos uma relação de cão e gato onde carinho, conversa e amor é algo que existe de uma maneira demasiado própria. Aliás, da minha maneira de ver as coisas simplesmente não existe, estando John com Selina por sexo e Selina com John por dinheiro!

Este livro foi muito diferente de praticamente tudo o que li na vida. A escrita que o autor adoptou para este livro é eloquente, sendo ele narrado na primeira pessoa por John. É uma escrita própria, daquelas que primeiro estranha-se, depois entranha-se. Vemo-nos diante certas expressões e calões demasiado fortes, mas que no decorrer da "conversa" (pois este livro parece uma conversa, havendo até algumas falas em que o protagonista fala directamente connosco leitores) acabam por ficar bem. A personagem de John é muito própria, pois se por um lado ele parece um canalha sem escrúpulos, por outro parece uma pessoa perdida e trabalhadora. É alguém viciado em sexo, mulheres, na sua eterna amiga mão direita, pornografia e, mais importante de tudo, dinheiro. Vícios que ele admite ter com imenso orgulho, achando que isso o torna mais "macho" e dono de si mesmo. Ao longo de todo este romance vamos observando a vida que John leva. Uma vida cheia de vícios que o tornam um homem odiado por muitos e amado praticamente por ninguém. Um homem que acha graça ser olhado de lado por metade das mulheres de Nova Iorque (a outra metade são prostitutas que apenas querem o seu dinheiro), ser expulso de metade dos bares de onde vai (sendo a outra metade bares de drogados e prostitutas, estando-se os donos a lixar para as atitudes de John) e ser odiado por todos aqueles que o conhecem.

Acabamos por observar uma alteração nele após conhecer uma mulher que o tenta encaminhar para o lado dos bons, entregando-lhe determinados livros e obrigando-o a lê-los. Pequenas coisas que acabam por operar pequenos milagres na maneira de ser de John, que no fim do livro é um homem onde acha que a sua aparência de 102 quilos é o que fazem as mulheres adorá-lo, e não a sua conta bancária.

Adorei o pormenor de o próprio autor se inserir no romance, sendo uma personagem que personifica o oposto da de John. Um homem com talento, mas para quem o dinheiro nada significa.

Um livro que mostra a decadência que o dinheiro pode trazer, que os vícios trazem de certeza absoluta e tudo através da mente de alguém que vive tudo isto. Um livro para ser lido com calma, pois tem um vocabulário que embora nos prenda, nos pode fazer perder no meio de determinados pensamentos confusos que a personagem está a ter, como se tivesse a ter conversas cruzadas. Mas apesar disso, recomendo.

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