sábado, 15 de março de 2014

Vida Roubada

Autor: Adam Johnson
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 480
Editor: Saída de Emergência
ISBN: 9789896376215

Sinopse:
Jun Do é o filho atormentado de uma cantora misteriosa e de um pai dominante que gere um orfanato. É nesse orfanato que tem as suas primeiras experiências de poder, escolhendo os órfãos que comem primeiro e os que são enviados para trabalhos forçados. Reconhecido pela sua lealdade, Jun Do inicia a ascensão na hierarquia do Estado e envereda por uma estrada da qual não terá retorno.
Considerando-se "um cidadão humilde da maior nação do mundo", Jun Do torna-se raptor profissional e terá de resistir à violência arbitrária dos seus líderes para poder sobreviver. Mas é então que, levado ao limite, ousa assumir o papel do maior rival do Querido Líder Kim Jon Il, numa tentativa de salvar a mulher que ama, a lendária atriz Sun Moon.
Em parte thriller, em parte história de amor, Vida Roubada é um retrato cruel de uma Coreia do Norte dominada pela fome, corrupção e violência. Mas onde, estranhamente, também encontramos beleza e amor.


Opinião:
Este foi um livro da editora que deste que saiu no mercado me captou de imediato a atenção. A capa é lindíssima, mas admito que o que fez a sua magia foi a sinopse. Gostei de ler que a história ocorria na Coreia do Norte, um local onde a soberania do líder Kim Jon Il foi absoluta, sendo que os habitantes tinham medo até de respirar sem a sua expressa autorização. Foi essencialmente por este facto que quis ler o livro, embora admita que a capa e a referência ao prémio Pulitzer 2013 ajudaram.

Jun Do é filho do dono do orfanato. Embora tenha família, é considerado por todos um órfão, pois o pai não o trata de forma muito diferente de todas as outras crianças que vivem no orfanato. A grande diferença é que Jun Do é que decide onde se deitam as crianças e que porções de alimento merecem por dia. Desde muito cedo Jun Do acaba por ser reconhecido pela sua lealdade ao pai e mais tarde ao Estado. Cumpre tudo o que o Querido Líder deseja e conhece as canções tocadas pelo Estado de trás para a frente. Por causa desta lealdade começa a trabalhar para descobrir informações que possam ser úteis para o seu país e mais concretamente para o seu líder, interceptando informações via rádio de outros locais. Treinado desde cedo na arte de sobreviver à dor e chegando a ir num barco de pescadores para interceptar comunicações, é aí que a vida de Jun Do muda para sempre. É aí que se apaixona pela atriz Sun Moon e onde sofre na pele a crueldade do Querido Líder. Melhor, a crueldade que existe devido ao medo que se tem por Kim Jon Il. Um momento na vida de Jun Do em que este começa a mudar de mentalidade e começa a considerar que a sua vida e a sua lealdade não é assim tão perfeita quando isso.

É então que há acontecimentos que levam Jun Do a tornar-se no comandante Ga, o marido de Sun Moon e a pessoa mais importante na Coreia do Norte a seguir ao Querido Líder. Um homem conhecido pela sua dureza e crueldade. Um homem em quem Jun Don se acaba por tornar, juntando-se assim a Sun Moon e aos seus filhos, mudando as suas vidas para sempre.

Devo dizer que este livro tem diferentes tons ao longo da narrativa. A primeira parte do livro não me conseguiu prender. Era a parte onde nos era apresentado o nosso héroi Jun Do, uma parte onde era descrita a sua lealdade e o porquê de esta ter mudado de lugar. Mas a narrativa era estranha demais para mim e foi essa parte que mais me custou ler, embora seja uma parte pequena do livro. Já quando passei para a segunda parte, uma parte em que ficamos a conhecer o que acontecera a Jun Do após a sua prisão, posso dizer que praticamente bebi cada letra, cada frase. Esta parte da narrativa era muito mais fluída e a constante mudança entre a história do passado, sobre o porquê de Jun Do se ter tornado no comandante Ga, e o presente, em que Jun Do estava a ser interrogado sobre o desaparecimento de Sun Moon. Esta foi uma parte da narrativa mais profunda, em que são retratados diferentes noções da paz que existe na nação do Querido Líder.

Esta diferente noção é também demonstrada através da narração da história que percorre o país, através dos altifalantes espalhados por toda a nação. Enquanto a segunda metade da narração ocorre, temos os vislumbres desta narração, totalmente diferente da história real, sendo mais uma prova da opressão que existe no país, uma opressão que não pode ser referida, nem sequer pensada.

Um livro que me surpreendeu pela positiva e que através de um tom que chega a ser leve, demonstra a opressão e medo que existia na Coreia do Norte na época de Kim Jon Il e que ainda existe. Um livro que me surpreendeu pela positiva e que recomendo a todos.

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