sexta-feira, 2 de maio de 2014

Alma Rebelde

Autora: Carla M. Soares
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 288
Editor: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04337-5

Sinopse:
No calor das febres que incendeiam a Lisboa do século XIX, Joana, uma burguesa jovem e demasiado inteligente para o seu próprio bem, vê o destino traçado num trato comercial entre o pai e o patriarca de uma família nobre e sem meios.
Contrariada, Joana percorre os quilómetros até à nova casa, preparando-se para um futuro de obediências e nenhuma esperança.
Mas Santiago, o noivo, é em tudo diferente do que esperava. Pouco convencional, vivido e, acima de tudo, livre, depressa desarma Joana, com promessas de igualdade, respeito e até amor.
Numa atmosfera de sedução incontida e de aventuras desenham-se os alicerces de um amor imprevisto... Mas será Joana capaz de confiar neste companheiro inesperado e entregar-se à liberdade com que sempre sonhou? Ou esconderá o encanto de Santiago um perigo ainda maior?


Opinião:
Com a saída do novo livro da autora reparei num grande erro meu... ainda não tinha lido o seu primeiro livro que tinha comprado mal tinha saído! Como tal, visto que o tinha comigo, não resisti e comecei a lê-lo e devo dizer que gostei muito da experiência.

Joana sempre foi uma alma livre. Adorada por todos aqueles que a conhecem, pertence a uma família muitíssimo rica. Uma família que embora não tenha nome feito, é conhecida pela inteligência do seu pai em todos os negócios em que entra. É a melhor amiga da sua prima, uma mulher que fora acorrentada a um casamento horrível, onde o seu marido, velho e debilitado, apenas a quer pelo seu corpo e não pelo seu coração. Pela correspondência que troca com a prima, sabe o inferno em que esta vive, sendo forçada pelo marido que lhe chega inclusive a bater a continuar a viver em Lisboa, onde as febres ameaçam todos aqueles que lá vivem de uma morto sofrida.

Com más ideias relativamente ao que será o casamento, a notícia que o seu pai a havia prometido a outro homem, alguém que ela nunca tinha visto, mas cuja família tinha um nome secular, deixa Joana triste e mesmo irritada por ter sido vendida como mercadoria. Mas sabe que aquela é a sua vida, que sempre fora ensinada para isso, para saber falar várias línguas, tocar bem piano, ser agradável numa conversa, tudo para encantar o seu futuro esposo. Conhecendo apenas o pai do seu prometido, cria de imediato em sua mente a ideia de um jovem baixo e carrancudo... tudo o que ela não queria e temia.

Mas a chegada à sua nova prisão, a casa do seu esposo, acaba por não se provar algo assim tão mau. Acaba por criar laços com a sua sogra e até os criados da casa acabam por se demonstram almas caridosas, que por sinal adoram o prometido de Joana. Quando finalmente Santiago aparece, acaba por ser alguém muito diferente daquilo que Joana tinha imaginado, e o sentimento acaba por se provar mútuo.

Nunca tinha lido nada desta autora, na altura que o livro saiu cheguei inclusive a fazer uma entrevista com a mesma, uma entrevista na qual a achei muito simpática e atrevo-me a dizer com receio do sucesso que o livro faria no mercado e de como seria recebido pelos leitores. Posso dizer que neste último campo, pelo menos por mim, foi muitíssimo bem recebido. A autora descreveu muitíssimo bem, através das suas personagens, o ambiente de horror e medo que se vivia, especialmente na capital, no tempo das febres. Como as pessoas faziam o máximo para lhes fugir, como as campas comuns já não conseguiam albergar mais corpos, como o fedor a doença empestava as ruas. Estas descrições são feitas através dos olhos das personagens e dos rumores que estas ouvem sobre o que se passa, mas foi descrito de tal maneira que consegui imaginar esse horror em que se vivia na altura.

A descrição dos casamentos na altura foi outro ponto que gostei imenso de ver abordado, o medo que havia, como as pessoas (essencialmente as mulheres) eram tratadas como mercadoria, sendo que a sua educação rondava apenas o essencial para serem agradáveis aos olhos dos homens que poderiam ajudar a sua família a conquistar algo através do casamento.

Já relativamente às personagens, acabei por gostar da personalidade de Joana, mas devo dizer que inicialmente isso não foi nada fácil. Achei-a alguém de carácter difícil, habituada apesar de tudo de que as suas vontades lhe fossem feitas. Uma criança mimada, mas que podemos perdoar isso pelo facto de ter sido arrancada de casa para um casamento de conveniência com alguém que não conhece. Mas apesar disso achei-a uma pessoa tão indecisa que me fez deveras impressão. Não sabia bem o que pensar sobre o casamento, ora estava feliz, ora só queria matar o marido. Havia uma ou outra situação que compreendi a variação de sentimentos, mas noutras achei muito esquisito.

Santiago foi uma personagem que trazia alegria ao livro. Um nobre muito diferente dos demais, tanto no aspecto como na própria maneira de ser, alegrando todos aqueles que o conheciam, desde amigos, a sua mãe, os criados da casa e até mesmo a sua prometida, Joana. Uma personagem que também gostei de conhecer e tive pena de não ser ainda mais desenvolvida foi a mãe de Santiago. Alguém que casara com quem nunca amara e que não a conhecia de todo, mas apesar disso manteve-se correcta e querida para todos os que a rodeavam. Uma alma pura, sem dúvida, que não queria mal a ninguém e que fazia o seu melhor para todos sorrirem em seu redor.

Um livro que me prendeu do início ao fim e de que gostei muito. Uma boa estreia da autora (que já devia ter lido mais cedo ahahah).

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