quinta-feira, 25 de junho de 2015

Os Sonhos Que Tecemos

Autora: Kate Alcott
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 312
Editor: Edições Asa
ISBN: 9789892328614

Sinopse:
Alice Barrow desafia todas as convenções ao abandonar o mundo rural e tacanho onde nasceu. Numa época em que as mulheres são cidadãs de segunda categoria, o seu emprego na fiação da família Fiske é um passo importante rumo à emancipação. As "meninas da fiação" trabalham longas horas em condições precárias mas a alegria que as une é completamente nova para ela. Um dia, até dá por si a cometer a "extravagância" de celebrar o seu primeiro salário com a compra de um chapéu. É apenas um objeto mas vai ganhar a força de um talismã.
Inadvertidamente, Alice capta a atenção de Samuel Fiske, filho do dono da fábrica. Samuel é um enigma. Frio e impenetrável, tem o condão de contrariar frequentemente a própria família. O seu fascínio por Alice é a derradeira afronta aos pais e à ordem social. Será amor ou mero capricho?
O teste aos seus sentimentos será abrupto. Quando uma jovem muito especial aparece morta, toda a hierarquia de poder é posta em causa. O que se segue é um eco da luta ancestral entre ricos e pobres, poderosos e oprimidos. Apenas os mais determinados conseguirão vingar. Apenas um amor verdadeiro poderá sobreviver.


Opinião:
Olhei para este livro e pressenti uma narrativa leve, forte e com uma pitada de história. Foi esta "sensação" que me levou de imediato a pegar no livro e a começar a lê-lo. Para além, claro, da capa. Sendo eu muito influenciada pelas capas dos livros, esta não me podia deixar indiferente e devo dizer que a história acabou por ser muito diferente do que estava à espera apenas pela capa (não tinha lido a sinopse... por vezes faço isso, sou influenciada pela capa mas nem leio a sinopse).

Alice quer apoiar os seus pais. Quer ser independente e ter uma vida em que não tenha que depender do que a terra lhe dá. Não quer viver com dificuldades e preocupada se as próximas cheias irão destruir as culturas ou se o calor que se segue não irá destruir todo o trabalho de uma estação. Decide então tentar viver na cidade, onde arranja trabalha como "menina da fiação", numa das maiores fábricas do país. Vivendo com as restantes mulheres que trabalham na fiação, Alice descobre diferentes culturas e formas de olhar para a vida. Aí torna-se amiga da desorteira do sítio, uma rapariga com opiniões fortes que não quer acabar a viver para todo o sempre naquele dormitório. Alguém que quer lutar pelos seus direitos e melhorar as qualidades de trabalho nas fábricas de fiação.

Sendo uma pessoa calada e que tenta não dar nas vistas, Alice acaba por ir contra as suas próprias regras quando chama a atenção de Samuel, o filho do dono da fábrica de fiação, a única pessoa da família que compreende que aquelas pessoas deveriam ter melhor qualidade de trabalho, encontrando em Alice uma mulher como nunca vira. Decidida, forte e amiga dos seus amigos. Alguém de confiança, de quem gosta de imediato. Mas quando Alice é destacada para relatar os problemas da fiação, a sua relação está desde logo condenada.

Foi um livro que me surpreendeu. Estava à espera de outro género literário e fui surpreendida por algo diferente e que me prendeu do início ao fim. Apesar de ser um relato muitíssimo romanceado, acaba por relatar parte da realidade da mulher da altura. Um trabalho que pagava um pouco melhor do que trabalhar nos campos mas em que não se podia estar grávida, ter filhos, estar doente... Um trabalho em que as pessoas tinham que ser de ferro e que não existiam facilidades de tipo algum. O único apoio que tinham eram as colegas de trabalho e mesmo essas por vezes apenas queriam o seu posto de trabalho.

Para além da vida dentro da fábrica, vemos também como os tribunais separavam os crimes de mulheres e os dos homens. Como a natureza pecadora da mulher era sempre posta em causa e o homem era sempre o desencaminhado, não tendo culpa alguma do que se passava. Os mais fortes pisavam os mais fracos e os homens, tecnicamente com mais direitos naquela altura, acabavam por conseguir levar a sua avante.

Foi um livro que, apesar de não ser uma obra prima, conta de uma forma direta e simples alguns dos problemas do ambiente sufocante em que as mulheres viviam na altura. Gostei muito, uma boa estreia com a autora.

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